Cultura e Diversidade
Por: Andreia S.
21 de Fevereiro de 2018

Cultura e Diversidade

O que Sampa pode nos dizer sobre a questão da diversidade?

Antropologia Introdução a antropologia Sociologia Compreensão de conceitos

Cultura e Diversidade: O que Sampa pode nos dizer sobre a questão da diversidade?

 

Quando eu te encarei frente a frente e não vi o meu rosto
Chamei de mau gosto o que vi, de mau gosto, mau gosto
É que Narciso acha feio o que não é espelho
E à mente apavora o que ainda não é mesmo velho
...

(Sampa, Caetano Veloso e Elvira Brull)

 

            É natural ao ser humano, enquanto um ser social, sentir estranheza, aversão e até medo em relação àquilo que lhe é diferente, tomando como referência o lugar de onde vem, as pessoas com as quais está habituado a conviver ou a comida que sempre comeu. Isso acontece porque desde que nascemos somos levados a pensar de determinado modo, falar uma língua específica e de por em prática valores e costumes, normas, hábitos e práticas cotidianas de viver de um grupo. Este é um processo conhecido nas Ciências Sociais como socialização. E o modo de vida compartilhado por indivíduos de uma sociedade é o que se define, de modo geral, como sendo cultura. A cultura é necessariamente algo aprendido e ensinadopor agentes de socialização, como a família, a escola, a igreja, etc. Uma vez que compartilhamos de uma mesma cultura conseguimos nos comunicar e viver em sociedade.

            Contudo, a cultura na forma como nos é ensinada nos fornece uma falsa ideia de segurança de que estamos entre iguais, protegidos daquilo que não conhecemos ou identificamos como sendo um dos nossos.A cultura, na prática, não é um todo muito ordenado, em uma mesma cultura pode haver elementos contraditórios. Muitas vezes quando nos deparamos com a diversidade de elementos culturais agimos com aversão em defesa daquilo que conhecemos, assim foi com Caetano ao chegar à cidade de São Paulo. O artista deixa claro na sua canção que achou tudo muito feio e de mau gosto em relação a tudo que via como sendo bom, tendo como referência a sua cidade natal.

“E foste um difícil começo
Afasto o que não conheço
E quem vem de outro sonho feliz de cidade
Aprende depressa a chamar-te de realidade”.

            Isto também acontece com qualquer um de nós quando nos deparamos com coisas, lugares e pessoas que nos são diferentes, o que nos gera os mais diversos sentimentos e reações. No fundo todos nós somos preconceituosos, queremos sempre nos ver ou ver algo familiar no outro ou nas coisas, mesmo quando sentimos admiração pelo inusitado. Contudo, o estranhamento de novas culturas, uma vez não compreendidas e respeitadas, pode levar em casos extremos a sérios conflitos; como são os casos de conflitos que têm como base a questão religiosa – lados opostos acreditam que sua cultura religiosa seja a “verdadeira” ou ainda, seja superior a de seus rivais. Haja vista a história das cruzadas cristãs na antiguidade, ou a guerra na Bósnia no século XX.

            A defesa de nossas culturas nem sempre nos leva a conflitos armados de grandes proporções, mas nem por isso deixa de gerar consequências violentas, como na forma de agressões verbais preconceituosas – o bulling nas escolas é o primeiro passo, chegando a se consolidar nos espaços de trabalho -, ou ainda na forma de exclusão de minorias de espaços físicos e sociais até chegar à agressão física culminado no assassinato de indivíduos – no caso das periferias das grandes cidades pode-se constatar um verdadeiro extermínio da população negra jovem masculina, de acordo com Atlas da Violência de 2017.

             Tudo isso, de certa forma, inicia-se a partir de posturas essencialistas, que reduzem grupos e realidades sociais muito complexas a características rígidas e supostamente imutáveis. Como, por exemplo, quando dissemos que "todo árabe é terrorista por causa da sua religião" ou que "toda mulher tem disposição para ter filhos e não pode ser feliz sem dar à luz".Tais determinismos ou estereótipos estão ligados a um processo histórico de construção e de disputas em torno de uma imagem que se pretende dominante. Na verdade, é uma versão parcial a respeito de tal grupo (como a comunidade mulçumana árabe) ou instituição social (a família), e por ser parcial, pode ser, portanto, modificada. Afinal, temos que considerar que a cultura não é algo fixo e que muda com o tempo, muda historicamente.

             Novos valores, costumes e normas estão surgindo em nossa sociedade complexa e cada vez mais virtual diante da demanda social (necessária) de se respeitar e incluir as diversidades referentes a gênero, classe, raça, sexualidade, nacionalidade, etc. Do mesmo modo que novas disputas e conflitos sobre essas temáticas se avistam, seja no âmbito político ou no âmbito social. O caminho pode parecer duro e é com certeza, pois a mudança de cultura exige que ideias e valores cristalizados com o tempo sejam reavaliados e trocados por outros e isso gera muitas resistências, o que é normal, o novo sempre causa ansiedade e medo. Mas nada que não possa ser superado, pois, se até Caetano não sentiu seu coração ser tocado pela “dura poesia concreta” das esquinas de São Paulo, não é mesmo? E no fim:

 

“E os Novos Baianos passeiam na tua garoa
E novos baianos te podem curtir numa boa”.

 

 

 

 

 

 

 

 

Principais referência bibliográficas:

Diferenças, igualdades. Heloísa Buarque de Almeida, José Eduardo Szwako (orgs.). São Paulo: Berlindis & Vertecchia, 2009.

Atlas da Violência 2017. Ipea e Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Rio de Janeiro, 2017.         

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